DADOS BIOGRÁFICOS

Samuel de Sá Barrêto, filho de Pedreiras, nasceu na outra margem do Mearim, no bairro Nova Brasília, hoje Trizidela do Vale, em 8 de outubro de 1968, filho de Ceci Ana de Jesus e João de Sá Barrêto, seu pai poeta, reconhecido como o Gregório de Matos Pedreirense, por sua verve afiada e versos fortes; veio ao mundo pelas mãos de Mamãe Jardilina.

Estudou nos colégios Jardim de Infância Branca de Neve, Colégio Santo Antônio de Pádua, Bandeirante (Oscar Galvão), Escola Paula Frassinete, Colégio Iná Rego e Corrêa de Araújo. Graduou-se em Licenciatura Plena em Letras pela Faculdade de Educação São Francisco (FAESF); e em História, pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA [Programa Darcy Ribeiro]. Possui pós-graduação em Letras pela Faculdade Latino Americana de Educação (FLATED) e estava cursando a fase final do Mestrado, dando início ao Doutorado, na Universidad Politécnica Y Artísitca Del Paraguay.

Exerceu a função de professor na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), na Rede Estadual de ensino – Sistema Prisional, e na Faculdade de Educação Memorial Adelaide Franco (FEMAF).

Trabalhou na rádio cultura como cronista esportivo e apresentador de programa musical, de agosto de 1986 a 7 de janeiro de 1999. Fez parte da equipe de jornalismo da Folha do Mearim, hoje desativada, além de ter publicado nos periódicos Bode Velho; Ateneu; Informe-se do PT; e ter colaborado em outros jornais e revistas.

Samuel participou do primeiro movimento organizado de artistas em pedreiras – Movimento Corrêa de Araújo –, e depois esteve entre os integrantes de um grupo que reuniu os principais artistas locais a fim de constituir uma “associação que representasse os anseios da classe”, conforme relato de Darlan Pereira no livro “Pedreiras, fundamento de uma história. Assim sendo, em 2 de maio de 1993 nasceu a Associação dos Escritores e Poetas de Pedreiras (APOESP), da qual Samuel Barrêto foi diretor por três mandatos.

A partir do engajamento da APOESP e de um grupo de artistas: Samuel Barrêto, Paulo Piratta, Darlan Pereira, Joaquim Filho, Daniel Lisboa, Brandinho, Maria do Hélio, Manoelzinho, Nonato Matos, Riva do Vale, Manoel Santana entre outros, houve uma movimentação cultural e um incentivo coletivo, que tornou possível a criação da Fundação Pedreirense de Cultura e Turismo (FUP), em 20 de dezembro de 1997; sendo que a formalização deu-se pelos técnicos da administração do prefeito Edmilson Filho.

Além de ser produtor Cultural de alguns CD´s entre eles: É Diouro a Terra de João (onde consagrou a música O Rio interpretada por Sabrina Jansen) Gina Querida de Fernando Sergio, Paulo Piratta, Voz e Violão, Manoel Velo – Coração ao Vento.

No ano de 2004, recebeu a Comenda Corrêa de Araújo, honraria concedida pela Câmara Municipal de Pedreiras àqueles que têm relevantes serviços à educação e à cultura do município.

Foi membro-fundador da Academia Pedreirense de Letras (APL), fundada em 2006, onde ocupou a Cadeira nº 8, patroneada por Corrêa de Araújo, tendo sido recentemente eleito para o cargo de presidente. Também foi membro da Academia Poética Brasileira (APB), Cadeira nº 65, tendo como patrono João de Sá Barrêto; e Academia Piauiense de Poesia (ACAPP), Cadeira nº 36, tendo por patrono José Felix Pacheco. Agora, juntamente com os poetas Iracema de Brito, do Transual, e João Barrêto, Samuel também se tornou patrono de uma cadeira na Academia Esperantinopense de Letras (AEL), a cadeira nº 21, da Acadêmica e pedreirense Emanuelly Carneiro.

Além de radialista, ativista cultural e professor, Samuel foi poeta, cronista, compositor e produtor musical. Foi um dos idealizadores e diretor-geral do Projeto cultural “Da Golada Pro Brasil”, protagonizado por cantores e poetas pedreirenses, com a direção musical de Paulo Piratta. “Da Golada pro Brasil” é um espetáculo que se tornou CD, sendo apresentado para grandes públicos em todo o Maranhão, fazendo abertura de shows para Zeca Baleiro e Raça Negra, tendo completado 22 anos de atuação em 2020.

Juntamente com Riva do Vale, Darlan Pereira, Paulo Piratta, Wescley Brito, entre outros artistas Pedreirenses, Samuel participou da criação e execução do projeto “Canja na Terça”, um movimento cujo principal objetivo era a fomentação cultural de música e literatura, uma oportunidade para a realização de oficinas para a formação de músicos, cantores e poetas, entre muitos que estão hoje no cenário musical do Maranhão e fora dele. Acontecia nos bares de Pedreiras e Trizidela do Vale, tendo durado 5 anos. Nos três primeiros, 2002 a 2005, aconteceu no tradicional e cultural Bar do índio; e a partir de 2006, passou a ser itinerante.

Também acontecia no Bar do índio o “Bingo do Galo”, um dos maiores projetos culturais e musicais já feitos em Pedreiras, idealizado por alguns artistas, contando também com Samuel. O “Bingo do Galo” chegou a trazer vários artistas de fora, e foi um sucesso, só perdendo para a Canja, na visão de Paulo Piratta. Samuel participou também da equipe do projeto cultural Maranhão na Praça, que aliava literatura, artesanato, música e dança, tendo acontecido de 2006 a 2009, no patamar da igreja São Benedito.

Samuel Barrêto sempre esteve atento a tudo que fosse voltado para o desenvolvimento da cultura de Pedreiras. Era de uma geração de artistas que agia na coletividade, e não sabia se comportar de outra forma, acima de nomes, títulos e individualismos, prezava o crescimento e desenvolvimento cultural de sua cidade.

Foi conselheiro municipal de cultura por muito tempo, chegando a presidir o Conselho de Cultura de Pedreiras. Ajudou no mapeamento turístico, na criação do conselho de turismo de Pedreiras. Atuou junto a seus companheiros de militância cultural para que Pedreiras, mesmo antes do Estado do Maranhão, fosse a primeira cidade maranhense a realizar seu Fórum de Cultura. Colaborou também para a organização do Fundo Municipal de Cultura de Pedreiras.

Samuel Barrêto, desde cedo teve identificação política com ideais de esquerda. Em 1988, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT), onde transitava em todas as tendências, sendo inclusive candidato de consenso nas vezes que esteve como presidente do partido em Pedreiras (2002/2005). Esteve na coordenação de dois projetos importantes da região: a eleição de Lula, em 2002, e a eleição do primeiro prefeito do PT em Pedreiras, 2004, Dr. Lenoilson. Manteve-se filiado até o dia 5 de dezembro de 2013, data emblemática, pois coincide com o dia da morte de Nelson Mandela. De acordo com Ivo Carvalhêdo: “era importantíssimo citar essa trajetória, por ele ter sido um cara muito ativo e conciliador, e mesmo quando esteve ausente, nunca se afastou da proposta, das amizades, e sempre que podia contribuía, com muito afinco.

Em 2013, foi criado o Comitê de Bacias Hidrográficas, e Samuel, como representante da cultura local, que como outros artistas de sua terra, bebia na fonte inspiradora do Rio Mearim, inseriu-se nesse contexto de luta ecológica e social. No comitê, sua atuação estava além das discussões. Como Poeta, cuidava da parte cultural e lúdica de louvação ao Rio; e como historiador, trazia a parte cultural, social do rio, que sofre com as agressões, e do povo, que reclama que a alma do rio não é mais a mesma.

Samuel, além de ativista, incentivador, sabia trabalhar em grupo e como voluntário, valorizando seus pares e dando sua contribuição para todos que precisavam e recorriam a ele. Também era uma espécie de arquivo vivo da história dele, dos seus parceiros e de Pedreiras, um consultor para quem recorriam quando precisavam lembrar ou saber de alguma coisa relacionada à história, cultura de maneira geral, ou a arte de Pedreiras. “Aliás, em se tratando de cultura, turismo e da história atual de pedreiras, eu não sei em que Samuel não participou”, palavras de Francinete Braga, ex-presidente da FUP e ex-secretária municipal de cultura.

Foi eleito Conselheiro Estadual de Cultura nos anos 2010 e 2011, 2016 a 2019. Contribuiu efetivamente, com sua voz crítica e assertiva, para a canalização de recursos, de forma íntegra, e a divulgação da cultura e literatura maranhenses. Esteve como um dos principais colaboradores do Conselho Estadual na criação do Plano Estadual de Cultura, participando da equipe que coletou informações em boa parte do Maranhão. Francinete Braga, que também esteve como Conselheira Estadual de Cultura, ao observar o trabalho de Samuel Barreto nos 6 anos de contribuição direta para o Conselho descreve: “O Plano Estadual de Cultura tem a alma e as palavras de Samuel de Sá Barrêto.”

Começou a escrever poemas aos 11 anos de idade. Este nosso profeta da poesia e da generosidade também foi envolvido desde cedo em muitas atividades culturais relacionadas à literatura e à arte, produzindo um considerável trabalho em prosa e verso, no qual também estão incluídas letras de músicas e parcerias com outros compositores pelo Brasil, recebendo diversos prêmios em festivais, entre outros eventos. A música “Trincados” recebeu a maior premiação em festivais do Maranhão, tendo sido contemplada como melhor letra e melhor intérprete, na voz de Sabrina Jansen, na segunda edição do Festival João do Vale, no ano de 2006, em Pedreiras. A Música “O Rio”, de sua parceria com Netto Kawakos, também interpretada com louvor por Sabrina Jansen, tem se tornado um novo hino cultural da cidade de Pedreiras.

A estreia de Samuel Barrêto em publicações deu-se em 1997, com o livro “SOS Libertação”. Além de participar de todas as Antologias e Coletâneas Poéticas tradicionais da cidade de Pedreiras, descobria autores, incentivando-os a mostrar seus trabalhos, muitas vezes indo pessoalmente coletar e digitar as obras, bem como escrever suas biografias para publicação nas Antologias da cidade.

Publicou, pela Laborarte, de 2007 a 2011, “O Testamento de Judas”, em parceria com Nelson Brito, Zeca Tocantins, Imira Brito e Edvaldo Santos. Teve publicados cinco poemas na Antologia “Mil Poemas para Gonçalves Dias”, lançada em São Luís, em 2013, pelo Instituto Histórico e Geográfico Maranhense (IHGM).

Venceu o Plano Editorial Gonçalves Dias, categoria Crônicas, da Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, com o livro “A Rua da Golada e Sua Identidade”, em 2009. Em Pedreiras, no ano de 2013, lançou o 1º Cordel Beneficente da região, com o poema “A Peleja de Luís Bico de Agulha com o Guaxinin Cagão”, em parceria com Edvaldo Santos. Também em 2013, publicou o livro de poesias “Caderno de Passagem”, pela EDUFMA; e em 2014, venceu o Edital II de literatura da Fundação de Amparo à Pesquisa (FAPEMA), com estes “Versos Cinzentos”, lançado pela Ética Editora, tendo destacada participação no Salão do Livro de Imperatriz, juntamente com o saudoso historiador Adalberto Franklin. Venceu a XXI Poemara – Festival Maranhense de Poesia, realizado em Pedreiras, com o poema ‘Águas Barrentas’, em 2007.

Recentemente, publicou na Antologia Poética “Poesia Livre” (Vivara, 2020), junto com seu filho, João Luís Barrêto, que demonstra interesse e talento para a escrita literária, o que lhe causava imensa satisfação.

Também foi parceiro e incentivador de vários projetos, tais como o “Poesia na Escola”, com a professora Rita Pereira, no qual ministrava oficinas literárias, voluntariamente, na Escola Janoca Maciel; e a culminância se deu com a escrita de um livro pelos estudantes. Em parceria com a poeta Ana Néres Pessoa, idealizou o projeto “Tributo”, que objetivava resgatar obras e a memória de poetas que partiram, tendo inclusive deixado prontos: “Tributo Iracema de Brito: a Patativa do Transual”, que contou com a participação também do saudoso Danilo Ribeiro; e “Tributo a João Barrêto, o Menestrel Pedreirense”, seu saudoso pai. Samuel também foi parceiro e principal incentivador do Projeto “Sonho de Maria”, que visa apoiar a carreira da poeta Maria do Socorro Menezes. Ainda desse projeto, tem “Ano Poético”, idealizado com sua colaboração, juntamente com Adalberto Franklin, para ser lançado pela Editora Ética e ter abrangência estadual.

Com o início da pandemia e o isolamento social, Samuel Barrêto destacou-se no Maranhão por seu projeto diário de Lives Culturais, no qual recebia conterrâneos e artistas de todo o Maranhão e do Brasil. Foi um período de efervescência de sua verve e dedicação à arte, que pareceu uma espécie de “despedida”, deixando o palco no melhor do espetáculo. Isso é o que fica registrado para seus parceiros, seguidores, fãs e admiradores de sua arte de escrever e se comunicar.

Às 21h15 do dia 13 de julho de 2020, em São Luís, Maranhão, esse grande poeta, escritor, ativista cultural, historiador, radialista, compositor e professor partiu “fora do combinado”. Não sei se premunindo sua passagem meteórica entre nós, deixou em “Versos Cinzentos” este canto intitulado “Até breve”, como a se despedir: “Despedida deixa-me um vazio sem fim, / no duelo das palavras, cala-se de seca a língua, / o brilho da Lua parece sangrar de solidão.../Junto as cinzas da saudade e choro imensamente, tudo ficou turvo nas últimas linhas escritas.” [...] “Estou indo por aí e não vou pensar na volta, / pois volta e meia sinto-me partido ao meio, / prefiro imaginar a felicidade por onde passo, / apresso o passo indo cada vez mais longe, / para quem sabe, não sonhar com o regresso...”

O Poeta recebeu várias homenagens das suas duas cidades irmanadas. Em Trizidela do Vale, o prefeito Fred Maia sancionou o Projeto de Lei que denomina, na Praça da Juventude, o “Teatro Municipal Samuel Barrêto”, e foi inaugurada a Biblioteca Poeta Samuel Barrêto, no C. E. Newton Bello. Em Pedreiras, foi instituído, pela Câmara de Vereadores, 8 de outubro como o dia municipal do Poeta Samuel Barrêto. E também o projeto idealizado e dirigido por Paulo Piratta: “Pedreiras Canta Samuel Barrêto”, que consiste na regravação da música “O Rio”, de Samuel Barrêto e Neto Kawacos, com a participação de vários cantores pedreirenses; e a gravação de um clipe com artistas e a família do Poeta. Em 2021, mais precisamente no mês de outubro, com o incentivo e a coordenação de Joãozinho Ribeiro, poeta, compositor e ex-secretário estadual de cultura, em parceria com vários colaboradores, acontecerá I Semana Cultural Samuel Barrêto, que objetiva contribuir para a memória do Poeta e de sua terra, através da fomentação da cultura em seus múltiplos aspectos, agregando todas as gerações, resgatando memórias e proporcionando a valorização dos artistas e mestres da cultura locais, fortalecendo atividades de economia criativa de Pedreiras e região.

Samuel deixou muitos livros inéditos, que serão publicados para a perpetuação de sua memória e legado para a cultura, entre eles, o poema incompleto “Escalada de Vida”, que foi publicado por sua família aos 13 de agosto passado; e a obra “Furo no Engano”, que o poeta trazia em seu coração o grande desejo de apresentá-la ao público ainda no ano de 2020. Assim sendo sua vontade, a família a editou, aos cuidados da Editora Penalux, com lançamento marcado para o dia 8 de outubro de 2020, data do aniversário do poeta. A escrita de “Furo no Engano” trouxe um refúgio na pandemia, através da sensibilidade das palavras do poeta, que fazem pensar além do engano deste furo.

Pesquisa biográfica organizada por Ana Néres Pessoa.

Contribuições de Samuel Barrêto, Fernando Braga, Ana Ceci Barrêto e Luiza de Marilac Uchôa.

Entrevistados: Paulo Piratta, Darlan Fernandes, Joãozinho Ribeiro, Valéria Leite, Francinete Braga, Wescley Brito, Ivo Carvalhêdo, Ester Barrêto e Armando Nobre.